terça-feira, 29 de maio de 2012

Sobre competições – O ganhar e perder


Podemos encontrar com facilidade escolas de artes marciais, métodos de combate e academias especializadas em criar e preparar atletas de alto nível para diversos tipos de competições. Algumas em métodos específicos, já outras mesclando várias vertentes marciais para esta finalidade.

Quando um novo praticante da Bujinkan entra em contato com o Ninjutsu, muitas vezes acaba no questionamento sobre competições e torneios. Uma dúvida natural num mundo onde boa parte do Budô moderno acabou transformando-se em esporte.

Pensar em competições e campeonatos requer pensar muito mais do que apenas preparação, vitória ou derrota. Esta colocação necessita de reflexões muito mais profundas sobre o próprio ser humano e sua própria vida para que entendamos este conceito.

Lutar e combater são atividades enraizadas no homem desde sempre. A continuidade de sua vida, obviamente, dependia de evitar a morte o que muitas vezes tornava o combate inevitável. Ora lutar pelo alimento, ora lutar pela sobrevivência ou pelo país, desta forma, o combate sempre esteve intimamente relacionado com a vida e a morte, algo muito mais complexo e sério que aparenta se pensarmos apenas na questão da competição.

Atualmente não há mais a necessidade de combater pela sobrevivência, a modernização transformou o Bujutsu (técnica marcial) em Budô (Refinação espiritual pelas artes marciais), consequentemente modernizando o antigo combate de vida e morte em um jogo com regras e limites para a saúde dos participantes.

Tanto Bujutsu quanto Budô (que na realidade não estão separados, mas sim, um contém o outro) proporcionam às pessoas a possibilidade de uma prática de refinamento físico, mental e espiritual, além dos ganhos em saúde e coordenação motora. E no meu entender, esta refinação do Sangai (三界 –Três mundos:  corpo, mente e espírito) requer o entendimento da relação interdependente entre os seres e a real harmonia com o universo.

Acredito que um Budôka com um treinamento empenhado e de coração é capaz de compreender a ligação entre os seres, a unidade que envolve o universo e a fragilidade da língua e da mente dual. Talvez, este Budôka compreenda que bonito e feio, dentro e fora, forte e fraco são apenas separações teóricas e duais de uma realidade diferente.

Ganhar em um campeonato significa a satisfação de um e o sofrimento de outro, tanto no âmbito físico quanto no âmbito mental. O perdedor que sofre está ligado ao vencedor, portanto o sofrimento também é deste segundo, e da mesma forma a vitória também é do sofredor.

As famílias ganham e perdem junto, os times ganham e perdem e o resto do universo ganha e perde ao mesmo tempo. O conceito de ganhar e perder cai por água abaixo e se desfaz, perdendo a força e não dando conta de abarcar o mundo real. Assim, a ilusão de vitória ou derrota preenchem a mente dos competidores.

O competidor entusiasmado em vencer, iludido por esta dicotomia, atinge a vitória e canta sobre o sofrimento do parceiro. Porém a vitória impermanente se esfacela e preenche o coração do vitorioso mais uma vez com angústia, agora ainda mais cego pela ilusão da vitória.

O Budôka não enxerga a realidade por meio das lentes da vitória ou da derrota, mas sim se utiliza do Bujutsu e a sua prática para desenvolver o Sangai e consequentemente buscar a evolução conjunta do universo. O Budôka não está separado de todo o universo assim como todo o universo não está separado do Budôka.

A única luta com que o Budôka deve se empenhar em vencer é a luta contra suas próprias ilusões, contra seu próprio ego que busca a vitória ao invés da derrota, o belo ao invés do feio e a vida ao invés da morte.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

O Budoka - Kisshomaru Ueshiba


A seguir as palavras do Dôshu (superior) do Aikido, Kisshomaru Ueshiba, filho do fundador Morihei Ueshiba, sobre o que é um verdadeiro Budoka:

Os que conhecem realmente o Budô têm um porte solto, dando a impressão de serem suaves e gentis. Os que confiam no Budô não fanfarroneiam nem fazem alarde, e seu comportamento é sempre agradável e alegre. Externamente, manifestam delicadeza; internamente, possuem uma grande força. Na vida diária, são despretensiosos e modestos, e suas ações são naturais, nunca forçadas. Mostram-se como são, vivendo natural e espontaneamente. Este é o retrato do verdadeiro estudante de artes marciais.

UESHIBA, Kisshômaru. O Espírito do Aikidô. São Paulo: Editora Cultrix, 2007, pg. 109.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Jibun de Narai - 自分で習い



Certa vez tive contato com uma frase que me fez rever todos os conceitos que tinha sobre educação e aprendizado, que dizia: “O professor não ensina, mas sim, disponibiliza o conhecimento”.
Tendo em conta que um professor pode ser qualquer ser, animado ou inanimado, físico ou abstrato, e que a cada passo podemos nos deparar com algo que nos transmita um ensinamento, considerar que o conhecimento está ao nosso redor e basta captura-lo não se transforma em algo de difícil entendimento.


Numa das traduções poetizadas do Shikin Haramitsu Dai Komyou encontramos a consideração de que o conhecimento é peça fundamental para o nosso crescimento: “Todo conhecimento é sagrado e fornece a chave para um mundo melhor”, o que de fato pode oferecer muitas possibilidades para nossa vida.
Primeiramente gostaria de apresentar algumas considerações sobre “conhecimento”. A palavra Shikin, do Shikin Haramitsu, possui caracteres japoneses que se referem às sensações e percepções dos sentidos. Todas estas sensações e percepções são absorvidas por nossas seis vias de entrada (Rokkon – 六根) que são: olfato, audição, paladar, tato, visão e percepção mental.

Deste ponto de vista, o conhecimento é mais do que apenas um substantivo sobre “saber algo”, como se o ato de conhecer fosse passivo. Entendendo que para este conhecimento é necessário a participação dos seis sentidos, deduzimos que conhecer é experimentar, ou seja, uma ação que vem de quem experimenta até o que é experimentado.

A concepção usual de conhecimento pode ser um pouco enganosa, levando-nos a entender que o conhecer é uma ação que vem do que se conhece até quem está conhecendo, um fluxo contrário ao que acabamos de entender. Portanto, a relação entre conhecedor e o que se conhece é uma relação ativa ao invés de passiva.
Ao invés de utilizarmos a palavra “conhecimento”, gostaria de apresentar uma alternativa em japonês que acredito encaixar-se de forma mais adequada às nossas finalidades: Taiken - 体験.

A palavra taiken é utilizada com o significado de “experiência”, porém, uma experiência ativa e que depende do indivíduo e seu próprio corpo. Tai (), que também poder ser lido como karada, significa corpo e Ken (), que poder ser lido como tamesu, significa ‘testar, provar’.

Conhecer, na sua forma mais pura, significa experimentar com seu próprio corpo, entrar em contato de fato com o fenômeno que se pretende conhecer. Sem o contato entre os seres não há troca de energias que complementarão o aprendizado. É por este motivo que a prática em grupo é uma prática extremamente importante.

Entendendo que para conhecer algo, na forma mais pura, é necessário a experiência (ou experimentação, como gosto de colocar), voltemos à questão do “ensinar”.

Apesar de estarmos todos ligados, o corpo de cada ser é único, responsável pela absorção de sensações de cada indivíduo. Por este motivo, transmitir seu próprio conhecimento (experiência) para outro indivíduo é uma tarefa impossível. Não há possibilidade de transmissão das experiências de vida, afinal as experiências foram absorvidas com aquele corpo por aquele indivíduo.

Somente se a experiência (taiken) do indivíduo que aprende experimentar de forma similar a experiência (taiken) do indivíduo que ensina que o “aprender” estará se realizando de fato. Com isso, o ato de aprender depende principalmente do ato de experimentar de cada indivíduo.

Como exemplo podemos pensar no ato de aprender matemática: O professor sabe realizar os cálculos aritméticos que pretende ensinar aos seus alunos pois já os vivenciou e praticou com suas próprias mãos. Os alunos somente saberão de fato quando houver ‘taiken’, ou seja, a experiência do corpo. Com isso, mesmo os conhecimentos abstratos como conceitos filosóficos, só serão aprendidos quando houver o exercício e a experiência mental.

Quando existe a disposição de um professor em ensinar, esta oportunidade deve ser agarrada com toda força para que possamos o máximo a por meio de nossas próprias forças. O conhecimento está ali, já está vivenciado pelo professor, basta a dedicação de nossa parte em exercitar o máximo possível.

É isto que chamo de ‘jibun de narai’ (自分で習い), ou seja, “aprender por conta própria”. Apesar de esta frase significar algo como “aprender sozinho” (o que não é real, pois dependemos de muitas variáveis para isto), gosto de usá-la devido ao kanji Jibun (), que pode ser lido mizukara, e representa o próprio indivíduo.

Portanto, vamos nos empenhar em aprendermos por nós próprios, com nossos próprios esforços algo que nos é ensinado, pois é a única forma de absorvermos de coração.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Taiko e o Zen

Há um tempo fui convidado por um amigo a escrever um artigo sobre Taiko relacionando-o com o Zen.
Gostaria de compartilhar com vocês, pois acredito na similaridade de conceitos quepodemos atribuir à nossa prática marcial.

http://www.felipetamashiro.com/

confiram na sessão de artigos.

Seguidores