Podemos encontrar com facilidade escolas de artes marciais,
métodos de combate e academias especializadas em criar e preparar atletas de
alto nível para diversos tipos de competições. Algumas em métodos específicos, já
outras mesclando várias vertentes marciais para esta finalidade.
Quando um novo praticante da Bujinkan entra em contato com o
Ninjutsu, muitas vezes acaba no questionamento sobre competições e torneios.
Uma dúvida natural num mundo onde boa parte do Budô moderno acabou
transformando-se em esporte.
Pensar em competições e campeonatos requer pensar muito mais
do que apenas preparação, vitória ou derrota. Esta colocação necessita de
reflexões muito mais profundas sobre o próprio ser humano e sua própria vida
para que entendamos este conceito.
Lutar e combater são atividades enraizadas no homem desde
sempre. A continuidade de sua vida, obviamente, dependia de evitar a morte o
que muitas vezes tornava o combate inevitável. Ora lutar pelo alimento, ora
lutar pela sobrevivência ou pelo país, desta forma, o combate sempre esteve
intimamente relacionado com a vida e a morte, algo muito mais complexo e sério
que aparenta se pensarmos apenas na questão da competição.
Atualmente não há mais a necessidade de combater pela
sobrevivência, a modernização transformou o Bujutsu (técnica marcial) em Budô
(Refinação espiritual pelas artes marciais), consequentemente modernizando o
antigo combate de vida e morte em um jogo com regras e limites para a saúde dos
participantes.
Tanto Bujutsu quanto Budô (que na realidade não estão
separados, mas sim, um contém o outro) proporcionam às pessoas a possibilidade
de uma prática de refinamento físico, mental e espiritual, além dos ganhos em
saúde e coordenação motora. E no meu entender, esta refinação do Sangai (三界 –Três mundos:
corpo, mente e espírito) requer o entendimento da relação
interdependente entre os seres e a real harmonia com o universo.
Acredito que um Budôka com um treinamento empenhado e de
coração é capaz de compreender a ligação entre os seres, a unidade que envolve
o universo e a fragilidade da língua e da mente dual. Talvez, este Budôka
compreenda que bonito e feio, dentro e fora, forte e fraco são apenas
separações teóricas e duais de uma realidade diferente.
Ganhar em um campeonato significa a satisfação de um e o
sofrimento de outro, tanto no âmbito físico quanto no âmbito mental. O perdedor
que sofre está ligado ao vencedor, portanto o sofrimento também é deste segundo,
e da mesma forma a vitória também é do sofredor.
As famílias ganham e perdem junto, os times ganham e perdem
e o resto do universo ganha e perde ao mesmo tempo. O conceito de ganhar e
perder cai por água abaixo e se desfaz, perdendo a força e não dando conta de
abarcar o mundo real. Assim, a ilusão de vitória ou derrota preenchem a mente
dos competidores.
O competidor entusiasmado em vencer, iludido por esta
dicotomia, atinge a vitória e canta sobre o sofrimento do parceiro. Porém a
vitória impermanente se esfacela e preenche o coração do vitorioso mais uma vez
com angústia, agora ainda mais cego pela ilusão da vitória.
O Budôka não enxerga a realidade por meio das lentes da
vitória ou da derrota, mas sim se utiliza do Bujutsu e a sua prática para
desenvolver o Sangai e consequentemente buscar a evolução conjunta do universo.
O Budôka não está separado de todo o universo assim como todo o universo não
está separado do Budôka.
A única luta com que o Budôka deve se empenhar em vencer é a
luta contra suas próprias ilusões, contra seu próprio ego que busca a vitória
ao invés da derrota, o belo ao invés do feio e a vida ao invés da morte.