Certa vez tive contato com uma frase que me fez rever todos
os conceitos que tinha sobre educação e aprendizado, que dizia: “O professor
não ensina, mas sim, disponibiliza o conhecimento”.
Tendo em conta que um professor pode ser qualquer ser,
animado ou inanimado, físico ou abstrato, e que a cada passo podemos nos
deparar com algo que nos transmita um ensinamento, considerar que o
conhecimento está ao nosso redor e basta captura-lo não se transforma em algo
de difícil entendimento.
Numa das traduções poetizadas do Shikin Haramitsu Dai Komyou
encontramos a consideração de que o conhecimento é peça fundamental para o
nosso crescimento: “Todo conhecimento é sagrado e fornece a chave para um mundo
melhor”, o que de fato pode oferecer muitas possibilidades para nossa vida.
Primeiramente gostaria de apresentar algumas considerações
sobre “conhecimento”. A palavra Shikin, do Shikin Haramitsu, possui caracteres
japoneses que se referem às sensações e percepções dos sentidos. Todas estas
sensações e percepções são absorvidas por nossas seis vias de entrada (Rokkon –
六根) que são: olfato, audição, paladar, tato, visão e
percepção mental.
Deste ponto de vista, o conhecimento é mais do que apenas um
substantivo sobre “saber algo”, como se o ato de conhecer fosse passivo.
Entendendo que para este conhecimento é necessário a participação dos seis
sentidos, deduzimos que conhecer é experimentar, ou seja, uma ação que vem de
quem experimenta até o que é experimentado.
A concepção usual de conhecimento pode ser um pouco
enganosa, levando-nos a entender que o conhecer é uma ação que vem do que se
conhece até quem está conhecendo, um fluxo contrário ao que acabamos de
entender. Portanto, a relação entre conhecedor e o que se conhece é uma relação
ativa ao invés de passiva.
Ao invés de utilizarmos a palavra “conhecimento”, gostaria
de apresentar uma alternativa em japonês que acredito encaixar-se de forma mais
adequada às nossas finalidades: Taiken - 体験.
A palavra taiken é utilizada com o significado de
“experiência”, porém, uma experiência ativa e que depende do indivíduo e seu
próprio corpo. Tai (体), que também poder ser lido como karada, significa corpo
e Ken (験), que poder ser lido como tamesu, significa ‘testar,
provar’.
Conhecer, na sua forma mais pura, significa experimentar com
seu próprio corpo, entrar em contato de fato com o fenômeno que se pretende
conhecer. Sem o contato entre os seres não há troca de energias que
complementarão o aprendizado. É por este motivo que a prática em grupo é uma
prática extremamente importante.
Entendendo que para conhecer algo, na forma mais pura, é
necessário a experiência (ou experimentação, como gosto de colocar), voltemos à
questão do “ensinar”.
Apesar de estarmos todos ligados, o corpo de cada ser é
único, responsável pela absorção de sensações de cada indivíduo. Por este
motivo, transmitir seu próprio conhecimento (experiência) para outro indivíduo
é uma tarefa impossível. Não há possibilidade de transmissão das experiências
de vida, afinal as experiências foram absorvidas com aquele corpo por aquele
indivíduo.
Somente se a experiência (taiken) do indivíduo que aprende
experimentar de forma similar a experiência (taiken) do indivíduo que ensina
que o “aprender” estará se realizando de fato. Com isso, o ato de aprender depende
principalmente do ato de experimentar de cada indivíduo.
Como exemplo podemos pensar no ato de aprender matemática: O
professor sabe realizar os cálculos aritméticos que pretende ensinar aos seus
alunos pois já os vivenciou e praticou com suas próprias mãos. Os alunos
somente saberão de fato quando houver ‘taiken’, ou seja, a experiência do
corpo. Com isso, mesmo os conhecimentos abstratos como conceitos filosóficos,
só serão aprendidos quando houver o exercício e a experiência mental.
Quando existe a disposição de um professor em ensinar, esta
oportunidade deve ser agarrada com toda força para que possamos o máximo a por
meio de nossas próprias forças. O conhecimento está ali, já está vivenciado
pelo professor, basta a dedicação de nossa parte em exercitar o máximo
possível.
É isto que chamo de ‘jibun de narai’ (自分で習い),
ou seja, “aprender por conta própria”. Apesar de esta frase significar algo
como “aprender sozinho” (o que não é real, pois dependemos de muitas variáveis
para isto), gosto de usá-la devido ao kanji Jibun (自), que
pode ser lido mizukara, e representa o próprio indivíduo.
Portanto,
vamos nos empenhar em aprendermos por nós próprios, com nossos próprios esforços
algo que nos é ensinado, pois é a única forma de absorvermos de coração.